Eu gosto quando um vento breve te alcança
& teu cabelo preto entra suave na dança
em movimentos leves de improviso,
cada ondular se espraia em ritmo preciso
& espelha o negror da noite que avança
teu corpo em flor, meu jardim do paraíso,
baila seu bailado & me faz perder o juízo
doce morena, alma índia que me abraça
ayuhasca perfumada, aroma de tirar o siso
teu cheiro de fêmea é minha doce cachaça
ah, menina cauim que incendeia desejos!
ave feminil que encanta com gráceis adejos
beleza ferina, yanomami, xamã-guerreira
teu olhar, felina, acende o feitiço da fogueira
& todo meu corpo arde ao calor dos teus beijos
POEMA: MARCELLO CHALVINSKI
ARTE: TOM COLBIE
Geração Paissandu
Vim, como todo mundo,
do quarto escuro da infância,
mundo de coisas e ânsias indecifráveis,
de só desejo e repulsa.
Cresci com a pressa de sempre.
Fui jovem, com a sede de todos,
em tempo de seco fascismo.
Por isso não tive pátria, só discos.
Amei, como todos pensam.
Troquei carícias cegas nos cinemas,
li todos os livros, acreditei
em quase tudo por ao menos um minuto,
provei do que pintou, adolesci.
Vi tudo que vi, entendi como pude.
Depois, como de direito,
endureci. Agora a minha boca
não arde tanto de sede.
As minhas mãos é que coçam -
vontade de destilar
depressa, antes que esfrie,
esse caldo morno da vida.
Paulo Henriques Britto
(1951)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Henriques_Brit
TERÇA-FEIRA, JANEIRO 03, 2017
Paulo Henriques Britto foi jovem, com a sede de todos, adolesceu. Depois, como de direito, endureceu.
Geração Paissandu
Vim, como todo mundo,
do quarto escuro da infância,
mundo de coisas e ânsias indecifráveis,
de só desejo e repulsa.
Cresci com a pressa de sempre.
Fui jovem, com a sede de todos,
em tempo de seco fascismo.
Por isso não tive pátria, só discos.
Amei, como todos pensam.
Troquei carícias cegas nos cinemas,
li todos os livros, acreditei
em quase tudo por ao menos um minuto,
provei do que pintou, adolesci.
Vi tudo que vi, entendi como pude.
Depois, como de direito,
endureci. Agora a minha boca
não arde tanto de sede.
As minhas mãos é que coçam -
vontade de destilar
depressa, antes que esfrie,
esse caldo morno da vida.
Paulo Henriques Britto
(1951)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Henriques_Brit
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